Institucional

As camadas constituintes do ser humano e da empresa: um olhar ampliado para pessoas e organizações sob a luz da Antroposofia

As camadas constituintes do ser humano e da empresa: um olhar ampliado para pessoas e organizações sob a luz da Antroposofia

Nesta minha fase de explorar o mundo corporativo por meio do autoconhecimento e desenvolvimento individual, mergulhei nos conceitos dos autores Daniel Burkhard e Jair Moggi, fundadores da empresa Adigo Consultores. Hoje, dou continuidade aos pensamentos que trouxe na última semana sobre a espiritualidade dentro das empresas, e como esta relação, de fato, pode ser enriquecedora e trazer conceitos simples de como reorientar processos de mudanças organizacionais e pessoais.

Abaixo, trago um resumo extraído da obra Espírito Transformador, dos autores. Vamos começar trazendo a visão dos quatro níveis ou camadas constituintes do ser humano.

 ➝ Nível 1: Corpo físico

O corpo físico é o que mais se assemelha ao reino mineral, cujas características são: frieza, secura, rigidez, peso. Nosso esqueleto e dentes são os elementos mais minerais do nosso corpo. O reino mineral está totalmente entregue às forças da gravidade, na morte o corpo sem vitalidade não se sustenta e cai, não consegue manter a postura ereta, fica entregue ao seu peso.

O corpo físico é o portador das substâncias – do latim “substantia”, que significa essência, ser. Ele é condição para a manifestação do nosso ser no mundo material. Uma característica do corpo vital é que ele acontece na linha do tempo e deixa seus rastros. 

➝ Nível 2: Corpo Vital

Corpo onde ocorre a nossa vida biológica da qual respiração, alimentação e processos fazem parte, trazem o reino mineral para dentro da vida orgânica. O corpo etérico mais se assemelha do reino vegetal, a exemplo de uma planta, cujas características são: cresce, procura luz, nasce, amadurece, fenece e morre; a planta descreve um ciclo no tempo e é capaz de fazer descendentes, reprodução.

Este é o corpo onde ocorrem processos que nos mantêm vivos

➝ Nível 3: Corpo Astral (ou anímico)

O corpo Astral se assemelha ao reino animal. Traz desejo, impulso, instinto, movimento, a alma, na visão junguiana, ânima, o componente feminino que todo ser humano carrega em si, aquele que “anima” todos nós, como traços em um papel que, de repente, ganham vida e saem da folha, tornando-se animados. É o corpo dos desejos, o corpo emocional. É a vida interior da consciência. Neste reino precisamos da consciência, caso contrário, permanecemos na vida em estado vegetativo.

➝ Nível 4: Eu

E, finalmente, o ser humano possui um eu, sua individualidade, Atma para os hindus, seu elemento individual espiritual que se manifesta em suas ações no mundo, no seu movimento, no seu querer. O eu transcende todas nossas existências no mundo físico e no mundo espiritual. Aqui há que saber que este eu não é o ego da psicanálise, mas sim o eu no sentido de Atma. O eu atua na consciência astral, desta forma, a partir das nossas relações com o mundo, e o que elas nos despertam, temos a chance de colocar nosso eu no mundo e manifestá-lo em ações.

➝ Nível 1 e 2: Corpo Humano – Corpo físico e Corpo vital 

➝ Nível 3: Alma – Corpo Astral

➝ Nível 4: Espírito – Eu

Cabe ressaltar que a visão de um homem dotado de corpo, alma e espírito é uma sabedoria que o ser humano carregava em si, mas que foi abolida no 8º Concílio de Constantinopla, em 869 d.C., pela Igreja Católica. Nesse momento, a Igreja define que o homem é composto apenas de corpo e alma e começa a dicotomia regente até os dias de hoje, que levou o homem a entender-se dual e que seu elemento espiritual só poderia ser unificado após sua morte no plano físico. Assim, as religiões surgem, inclusive, como a solução em vida para fazer essa ligação (Re – ligare/ re ligação/ Religião). É a partir dessa abolição do espírito que a ideia de um homem portador de elemento espiritual fica distorcida, aliando a espiritualidade apenas à alma. Mas, como dito acima, a alma puramente, iguala-nos ao reino animal, movido por paixões, instintos e desejos. Somos mais do que nossos impulsos, carregamos uma força de individualidade, aquela que nos leva aos nossos ideais, e essa é uma qualidade exclusiva pertencente ao reino humano.

Mas o que isso tem a ver com a empresa? Esses níveis das qualidades também diferenciam níveis qualitativos em uma empresa.

➝ Nível 1

O corpo físico da empresa, literalmente. Aquilo que ocupa espaço, é palpável e concreto, seus recursos fisicamente percebidos.

➝ Nível 2

Os processos da empresa. Aqui, entram documentos, fluxo de informações, dinheiro e até pessoas. Igual como ocorrem com as coisas, ocorre no Corpo Vital humano -, os processos ocorrem em uma linha de tempo.

➝ Nível 3

O nível das relações entre pessoas da empresa. Neste nível, entram sentimentos, pensamentos, vontades, medos. Como no corpo astral (ou anímico), o universo emocional e sensível fica evidente aqui.

➝ Nível 4

Nível da identidade da empresa e da biografia de uma empresa. Isso se expressa na visão, missão e valores que são, de fato, vividos como cultura de uma empresa. A essência da empresa está nesse nível.

Com essa visão resumida da constituição do homem e da empresa podemos, agora, enxergar a empresa como uma hierarquia complexa de sistemas visíveis e invisíveis. Neste ponto, penso que fica mais claro quando falamos no termo espiritual dentro de uma empresa.

Ainda, comparado ao ser humano, a empresa sempre está em busca de aprendizados e desenvolvimento. Como um ser humano que passa por diversos estágios de desenvolvimento: concepção, nascimento, infância, maturidade, envelhecimento e morte. Cada fase é preenchida por realizações, mas também por muitas crises que o forjaram e trouxeram até o estágio atual de sua existência.

 É importante ressaltar que, na analogia com a vida humana, a semelhança com a empresa ocorre até a fase do envelhecimento, pois se os fundadores, inevitavelmente, estão fadados a desaparecer fisicamente com a morte, o mesmo não ocorre, necessariamente, na empresa, porque ela é fruto do mundo das ideias ou dos sonhos, que são atemporais. Portanto, quando uma empresa envelhecida recebe um novo impulso espiritual, terá condições de transcender no tempo e de seguir um novo ciclo de vida. Isso pode acontecer, por exemplo, quando uma empresa ganha uma nova equipe de direção ou por uma nova geração. Quando estes agregam algo novo e respeitam os impulsos de seus fundadores, a empresa pode descrever um ciclo diferente do descrito acima. A perenização da empresa sempre vai depender da sabedoria e da coragem de seus herdeiros ou gestores em perceber e encaminhar as demandas típicas de cada um desses estágios de desenvolvimento. 

 Em geral, esses estágios são caracterizados por crises como: crise de crescimento, crise de resultados operacionais, crise de estagnação, crise financeira, crise de sucessão, crise estratégica, crise de expansão, crise de relacionamentos, crise de mercado, crise de fusão, crise da incorporação e conflitos, entre outras.

No próximo artigo, vamos contextualizar a perenização de uma empresa e como deve funcionar este processo de forma consciente e estruturada no desenvolvimento de gestores, sintonizado com um processo de desenvolvimento organizacional da empresa, e qual a importância das organizações mergulharem neste organismo quadrimembrado.

Camila Capel