ESG

ESG: O Papel da Parentalidade na Construção de um Futuro Sustentável

ESG: O Papel da Parentalidade na Construção de um Futuro Sustentável

Princípios ESG: a nova realidade dos negócios

Os princípios ESG (Environmental, Social, and Governance) representam uma nova realidade para os negócios, cada vez mais as empresas são  pressionadas, por investidores, consumidores e sociedade civil a adotarem práticas sustentáveis e responsáveis.

O conceito de sustentabilidade é compreendido por “atender às necessidades das gerações atuais sem comprometer as necessidades das gerações futuras, garantindo ao mesmo tempo um equilíbrio entre o crescimento econômico, o respeito pelo meio ambiente e o bem-estar social.”

É inegável que precisamos conviver com uma dura realidade: o início da crise climática, através dos constantes eventos extremos que estão acontecendo, como por exemplo, o Furacão Otis, que devastou Acapulco, enchentes no Rio Grande do Sul e ondas de calor fora de época. Além da perda irreparável de vidas em eventos como esses, que é, com certeza, a pior consequência, a economia também padece: queda na produção agrícola, estradas alagadas e destruídas prejudicam o fluxo de abastecimento do varejo, e os recursos naturais acabam rapidamente, o que preocupa a indústria.

Nesse contexto, surge um modelo de gestão pautado em reduzir o impacto das empresas, para que possamos ter tempo de nos adaptar às mudanças que são inevitáveis. O ESG, ou, no Brasil, ASG: Ambiente, Social, e Governança

  • O pilar meio ambiente: refere-se à gestão dos impactos ambientais das atividades empresariais, como a redução da emissão de gases de efeito estufa, a preservação dos recursos naturais e a promoção da biodiversidade.
  • O pilar social: diz respeito ao impacto das empresas na sociedade, incluindo o respeito aos direitos humanos, a promoção da diversidade e inclusão, e o desenvolvimento sustentável das comunidades.
  • E governança: trata das práticas de governança corporativa, como a transparência, a equidade e a accountability.

São pilares que funcionam juntos, uma vez que apenas com uma governança orientada para sustentabilidade vai se esforçar para reduzir o impacto ambiental de suas operações e aumentar seu impacto social positivo. 

A crescente importância dos princípios ESG pode ser explicada por uma série de fatores, incluindo:

  • A preocupação crescente com as mudanças climáticas e outros problemas ambientais, como já mencionado.
  • A ascensão da geração Z e Alpha, que são mais engajadas com questões sociais e ambientais, e são, portanto, os filhos, que chegam ou já chegaram a essa existência. 
  • A crescente demanda por produtos e serviços sustentáveis por parte dos consumidores. 

Deve-se levar em consideração também que, cada vez mais,  inserir a sustentabilidade no cerne da estratégia da organização por meio de práticas ESG pode trazer uma série de benefícios, incluindo:

  • Melhor reputação e imagem corporativa.
  • Atração de investidores e clientes mais exigentes.
  • Redução de custos e riscos.
  • Melhores resultados financeiros a longo prazo 
  • Inovação em materiais, para que empresas não mais dependem de recursos que estão acabando
  • Redução de recursos valiosos como tempo e dinheiro, por meio de operações mais inteligentes. 

Quando falamos em sustentabilidade, não falamos apenas no social e no ambiental, mas em tornar a empresa sustentável (capaz de existir) a longo prazo. Investir em práticas sustentáveis e responsáveis é uma questão de sobrevivência e prosperidade para os negócios.

Estamos aprendendo a nos tornar sustentáveis para o futuro e o universo corporativo já entendeu que isso é uma demanda para continuar a existir. Programas ESG tornam- se pautas de discussões dos C- level. A sustentabilidade hoje passa longe da fama que sempre carregou, de ser assunto  “desejável”; agora, ela determina as  decisões de uma empresa e se torna cultura de muitas delas. Sim,  garantir o futuro da empresa agora é interdependente de garantir os recursos naturais, derrubando barreiras de universos que andaram sem nunca se dar as mãos: corrida pelo dinheiro X preservação do planeta. E percebeu-se que não existe empresa sem pessoas e, que o bem estar físico, mental e emocional delas, será determinante para os resultados do negócio.

A Parentalidade na formação de valores

Essa pauta começa no universo corporativo, mas vai muito além. Corporações são feitas de pessoas, para pessoas. E nesse contexto, podemos dizer que todos esses conceitos precisam ser internalizados por nós, e então transmitidos para as futuras gerações, e a parentalidade é uma das principais formas de conduzir esta internalização. E será que estamos prontos? Nesse contexto, podemos citar a Parentalidade Essencial, método criado por Camila Capel, que consiste, em poucas palavras, em se auto educar, para educar. 

“Pais são os grandes empreendedores de um projeto coletivo: evolução da espécie humana, onde cuidar do planeta será ponto crucial, afinal, se a Terra não existir, a vida humana estará extinta. Não existe Terra sem humano e não existe humano sem Terra. Talvez isso seja de difícil compreensão e muito distante do tangível para nossa mente adulta, excessivamente racional e ávida por conceitos bem formatados. Mas, se por um momento, conseguíssemos pensar com a mente da criança, que não enxerga a natureza como algo fora dela e sim, enxerga-se como a própria natureza, poderemos entender que não precisamos falar de sustentabilidade, preservação, extinção de espécies ou aquecimento global como matérias escolares. A criança educada como pertencente à natureza, na vida adulta, naturalmente, fará escolhas que preservem recursos naturais e em alinhamento com um futuro sustentável, afinal, seu espaço vital estará em jogo e ela será consciente disso.”

Mas o desafio de educar, está justamente em romper padrões transgeracionais.Podemos dizer que para que a sustentabilidade seja de fato, parte da nossa cultura, ela precisa fazer parte de nós. Só caminharemos para uma economia regenerativa, se a sustentabilidade fizer parte da nossa educação e, permear a nossa realidade em todas as esferas, principalmente a familiar. Precisamos nos comprometer em aprender, para que possamos ensinar e garantir que as gerações futuras possam trilhar esse caminho de forma natural.
 

“Queremos que nossos filhos tenham pensamentos e ideias “fora da caixa”, mas ao mesmo tempo, tememos quando não se encaixam em padrões pré-estabelecidos e aceitos pela nossa sociedade ou até dentro de nossa família. É assim que padrões transgeracionais perpetuam; e com a preservação deles, destruímos a força criativa que as novas gerações carregam enquanto possibilidade. Queremos que filhos sejam coordenadores, líderes ou empreendedores, mas esquecemos que tais cargos exigem uma dose de ousadia e de coragem para quebrar regras e padrões.

Nesse contexto de crise climática e desigualdade social, seria muito fácil nos concentrarmos apenas em culpar as gerações anteriores. Mas a Parentalidade Essencial puxa a responsabilidade do amanhã para nós, nos convoca a quebrar padrões através da autoeducação, para que possamos através de nosso filhos, continuar o trabalho que nossa geração está começando. 

Se nós fomos educados, ganhamos autonomia para sair pela vida e seguir nossos caminhos. Com a chegada dos filhos e seus desafios intrínsecos, passamos a questionar as ferramentas que temos para educar. Sabemos que nossos filhos precisam de mais do que temos a oferecer, mas não somos mais os filhos, que recebem aprendizados dos pais, agora nos tornamos responsáveis pelo nosso próprio aprendizado.

Nossos pais já nos deram tudo que precisamos; a partir daqui, o que nos falta para viver os desafios, terão que ser conquistados por nossa própria vontade e alto comprometimento com nosso desenvolvimento. A Parentalidade Essencial é um caminho transformativo, de educação através da auto educação, onde conhecer a si mesmo será o único caminho possível para ter êxito na tarefa de educar os filhos.”

Citando a educação do futuro, Camila explica que   a premissa é preparar crianças e jovens para inovarem em um mundo cada vez mais orientado por valores sustentáveis, mas antes disso, os pais precisam se autoeducar, com uma dose de coragem, para permitir, e mais do que isso, estimular, que os filhos, se libertem de padrões, que muitas vezes, protegem. O grande questionamento é: devo protegê-lo, mesmo que isso prive ele de aprendizados difíceis? Ou devo estimulá-lo a um mundo que sabemos que é desafiador, e muitas vezes impiedoso.
E nesse contexto, a antroposofia, uma visão filosófica fundada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925), surge como uma ferramenta poderosa de transformação para pais, e filhos. Steiner coloca que, ao se pensar sobre o pensar, começamos a ter acesso a uma consciência diferente da cotidiana. Ele define a  antroposofia como “um caminho de conhecimento para guiar o espiritual do ser humano ao espiritual do universo.” 

O objetivo do antropósofo é tornar-se “mais humano”, ao aumentar sua consciência e deliberar sobre seus pensamentos e ações; ou seja, tornar-se um ser espiritualmente livre. E é essa libertação que pode começar uma auto educação, para que possamos enfim, ensinar de forma diferente.

“Penso que a resposta está em dar tempo para cada etapa do desenvolvimento:por exemplo, ao ensinar a criança a habitar seu micro espaço físico em casa e na escola, estamos ensinando ela a habitar o mundo de amanhã.

“Ajudamos nesta tarefa ao proporcionar contato com materiais naturais, brinquedos simples e feitos de elementos advindos da natureza; afinal, ela, como a natureza, carrega os elementos dentro de si: mineral em seus ossos; vegetal em seus processos fisiológicos (que a colocam sempre em crescimento e desenvolvimento, a exemplo de cabelos e unhas); há ainda em nós a presença do reino animal, representado pelos seus instintos e desejos. Este contato aparentemente simplista nos primeiros sete anos dará a ela referências internas de que a natureza não está fora, mas dentro dela. 

Ainda, a oportunidade de brincar, explorar, criar e fantasiar exercitam sua criatividade. Já o contato com adultos com gestos de bondade -com ela, com o próximo e com a natureza- oportuniza exercitar a tendência nata dos primeiros anos de vida, a imitação. Portanto, ajudamos seu desenvolvimento ao ensinar gestos humanos permeados de bondade”.

 A tônica que deve reger a visão do educador de primeiro setênio (os primeiros 7 anos da criança) é a de que o mundo é um lugar bom e que vale a pena estar nele.

 Com isso, cuidar do mundo e das pessoas não é valor a ser ensinado em cartilhas, mas gesto natural deste tipo de criança na vida adulta.Os bons hábitos desta fase permanecerão como memórias que ela tenderá a repetir o resto da vida. De maneira geral, ao cuidar do espaço da criança nos primeiros anos, ela saberá circular pelo mundo na maturidade, respeitando seu próprio espaço e, igualmente, respeitando os limites que a fazem esbarrar no outro, sendo este o prenúncio da empatia, as soft skill tão valorizadas.

 Somente a educação que amplia pontos de vista e enxerga a criança como objeto de observação para um desenvolvimento mútuo (do adulto e da própria criança) poderá educar seres humanos plenos para desempenharem livremente suas ideias, e usarem esta nova inteligência a serviço da humanidade. A educação que os aprisiona em crenças e valores de outras épocas não permite sua livre expressão neste novo mundo.  

A Parentalidade Essencial é um caminho transformativo, de educação através da auto educação, onde conhecer a si mesmo será o único caminho possível para ter êxito na tarefa de educar os filhos e construir um mundo sustentável em todas as esferas.
Conclusão:


Finalmente, quando o jovem chega no terceiro setênio, a partir dos 14 anos, o senso de verdade estará disponível, aliás,  está será a busca do jovem:  o mundo verdadeiro. A cabeça,  agora, está pronta para formar conceitos e pensar em como tornar reais seus ideais mais verdadeiros. Se tudo correr bem, aos 21 anos o jovem estará pronto para assumir a sua tarefa no mundo. O jovem que tiver conquistado sua individualidade ao longo dos primeiros anos de vida, saberá habitar seu espaço e tempo e saberá colocar em prática suas vocações para o bom, belo e verdadeiro, valores cultivados ao longo de seu processo de educação.


E qual o papel das empresas?

Empresas comprometidas com ESG devem implementar programas de conscientização sobre parentalidade. Afinal, a educação é um alicerce crucial na construção de um futuro sustentável. Por meio dela, moldamos cidadãos e líderes conscientes, engajados com o meio ambiente, a sociedade e a ética.

Os pais desempenham um papel-chave nessa educação para a sustentabilidade. Como os primeiros educadores de seus filhos, têm a oportunidade única de influenciar o desenvolvimento de atitudes e valores. Para que essa influência seja positiva, é essencial que os pais compreendam claramente o conceito de sustentabilidade. Isso implica em um processo de autoeducação sobre os desafios ambientais e sociais contemporâneos, e sobre as maneiras de contribuir para um futuro mais sustentável.

Assim como as empresas orientadas para ESG buscam conscientizar seus colaboradores, os programas de educação parental podem ser vistos como uma extensão desse compromisso, garantindo que a próxima geração seja não apenas receptiva, mas também protagonista na construção de um mundo mais equilibrado e sustentável.

Rafael Lima e Camila Capel

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